#17 - Sou muitos, mas principalmente: gay
Ontem foi o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+. E esta newsletter é mantida orgulhosamente por mim, que de muito, me orgulho primeiro de ser um - por toda a minha vida
oiê! como está por aí, tudo certo?
por aqui, seguimos com frio. e especificamente ontem, em Florianópolis, chovia. o que aumentava mais a sensação de gelado. e digo ontem pois esse texto começou mesmo a ser escrito ontem, dia 28 de junho, dia em que se celebra oficialmente o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+. porém, como meu compromisso com a constância tende a ser maior do que com a própria coerência das datas, ela está chegando hoje para você, neste domingão de meu Deus. tarde? talvez. mas é bom que provavelmente agora que você já excluiu os e-mails que não quer ler, deixou este para agora ou, quem sabe, mais tarde/durante a semana. obrigado por isso ✨
a criação da comigo em Florianópolis se deu enquanto eu ouvia uma música: Lost, do Frank Ocean, como contei na primeira edição.
e esta edição, a de número 17, também: desde que pensava em falar sobre o dia de ontem, inevitavelmente não saiu da minha mente Runaway, de Jessie and the Toy Boys - mas não para necessariamente escrever ela: como bem me lembraram as memórias do Facebook e os stories arquivados do meu Instagram, tradicionalmente seria um dia pra fazer um post nas minhas redes sociais celebrando a data.
porém, desde a minha última ida ao Paraná, que foi há poucos dias, de lá eu já vinha pensando que faria um post no Instagram, mas com um conteúdo diferente: reunindo trabalhos que eu já fiz por mim e para os nossos, pela nossa comunidade, desde lá de 2016, quando estava no segundo ano da faculdade de jornalismo.
mas conversando com a Ana Carolina, minha grande amiga e um dos tantos presentes que esta ilha me trouxe, ela me perguntou: “amigo, e porque não uma edição especial da newsletter?”
e ela, com total razão, me deu a luz para esta edição, que assim como na edição em que falei um pouco das minhas férias e do meu aniversário, não será sobre um lugar específico da ilha.
que caso você prefira, pode ser lida exatamente ao som da música que não saiu da minha cabeça nos últimos dias e que, conforme você verá mais pra baixo, também está eternizada no lado esquerdo do meu peito.
dedico esta edição à todas, todos e todes que vieram antes para que eu pudesse vir agora. e para aqueles que, mesmo ainda pensando que um dia não poderão vir: poderão, sim.
eu sempre soube que era gay. desde muito pequeno. mas foi aos 15 anos que consegui verbalizar e encarar de frente.
ao lado da minha melhor amiga, a pessoa que eu com ela, e ela comigo, fizemos um porto seguro para atracarmos nossas embarcações de vida quando as tempestades do mundo nos faziam achar que elas rachariam: Gabriela.
era um sábado, final de tarde, e nós estávamos sentados na esquina das nossas casas (lá em Cidade Gaúcha, ela morava numa quadra e eu em outra, com apenas uma rua no meio, logo, a esquina da minha casa era também a da dela).
na época, ela estava envolvida emocionalmente com uma garota. já eu, também gostava de um garoto de lá, uma história que se alongou inclusive por 4 bons longos anos, e que nunca deu em nada, porém, teve uma força bem expressiva sobre meus afetos e a forma como eu me relacionava (ou não) com outros homens.
naquele dia, Gabriela olhou pra mim e falou “amigo, eu acho que estou realmente gostando dela”. com A no final mesmo, dela, verbalizando um sentimento por alguém do mesmo sexo. então, além de acolher e olhar que aquele momento era realmente um marco histórico na nossa vida, também assumi oficialmente para ela de que sim, não tinha o que fazer: eu não sabia não ser eu. nós não sabíamos não sermos nós. do único jeito possível: um homem cisgênero gay e uma mulher cisgênero lésbica. não adiantasse o mundo querer dizer outra coisa, éramos eu e ela contra esse mundo.
desde então, os próximos passos era descobrir como tudo aquilo faria parte da nossa vida. e nossos pais? e nossos amigos? como seria dali pra frente? dilemas.
Gabriela e eu tínhamos, acima de um sentimento de amor por quem a gente gostava, medo de gostar dessas pessoas. e se descobrissem? o que seria de nós?
quando ainda nem meus pais sabiam “oficialmente” sobre a minha sexualidade - aquela coisa de sentar e conversar para “se assumir”, e as aspas revelam isso, né? assumir o quê? contar sobre necessariamente qual coisa da minha vida que não fosse simplesmente natural? meus irmãos não precisaram falar que são héteros. eu nunca precisei falar que meu cabelo era castanho, por exemplo, pois é visível. não era visível também que eu sou gay?
porém, nenhuma culpa dos meus pais. eles, assim como eu, encenaram o teatro que a convenção social de que você não cria um filho para ser gay nos faz, forçadamente, precisar passar. se não fosse o preconceito estrutural de uma sociedade que ainda nos coloca à margem, essa conversa com os meus pais precisaria ter acontecido?
então, primeiro nós aprendemos a ter medo. só depois aprendemos a amar. eu tenho muito menos tempo de tranquilidade para ser quem eu sou de verdade, pois quando contei para eles sobre quem eu sou, há 8 anos, no dia 12 de outubro de 2017, do que de vida, já que tenho 30 anos.
isso me remonta à uma frase que, todo ano, viraliza na internet. escrita por Alexander Leon, um ativista LGBTQIA+ da Inglaterra, é o resumo do que acontece na nossa vida:
“Pessoas LGBTs não crescem sendo elas mesmas. Nós crescemos nos sacrificando e nos limitando das nossas espontaneidades para minimizar humilhações e preconceitos.
Nosso maior desafio da vida adulta é escolher qual parte de nós é o que somos de verdade e qual criamos pra nos proteger do mundo.”
essa foto, por exemplo, é da 6ª Parada LGBTQIA+ de Maringá, um ano depois da que eu cobri para a faculdade. ela ficou guardada por alguns anos na minha galeria até que eu postasse ela a primeira vez, falando abertamente sobre quem eu sou.
que bom que hoje ela é não só pública, mas também um retrato fiel da minha história.
mas como disse, sobretudo de 2016 para frente, comecei a trilhar um caminho onde a maioria dos meus trabalhos acadêmicos eram sobre nossa comunidade.
foi uma forma que encontrei para me conectar com outros “eus”, os nossos, rostos com os quais eu me reconheceria, personalidades com as quais eu me identificaria. pessoas que, assim como eu, não aceitavam que dissessem quem a gente deveria/poderia amar ou não. e que me encorajaria a me encarar de frente.
de textos para o jornal-laboratório do curso de jornalismo da UniCesumar, o Jornal Matéria Prima, passando por reportagem veiculada na CBN Maringá, cobertura fotojornalística da Parada LGBTQIA+ de Maringá, radiodocumentários, ter escrito mais de 30 textos para a Queer Post, coluna de diversidade e inclusão do Maringá Post, palestras em colégios… fiz muito. faço muito, ainda. e me orgulho de detalhadamente cada uma delas.
então, abaixo, vou elencar estes materiais para que você, caso queira, possa conferir um pouco mais de tudo que já fiz por aí, não só dentro da faculdade, como depois também, nesse mundo e sobre nós:
📸 Cobertura fotojornalística da 5ª Parada LGBTQIA+ de Maringá/PR
Para a disciplina de Fotojornalismo, que cursei no segundo ano do curso, escolhi o evento por motivos óbvios - mas também porque queria me fazer e me sentir parte daquele todo.





✍🏻 Artigo de Opinião - Edição #455 do Jornal Matéria Prima
Nele, falei sobre O direito civil que sustenta o caráter: a garantia do cumprimento do decreto nº 8.727, publicado em 28 de abril de 2016 pela então presidenta Dilma Rousseff, que garantia o uso do nome social por pessoas trans e travestis em âmbitos públicos. Escrevi ele para a disciplina de Técnicas de Reportagem e Entrevista, que era a mantenedora do jornal com a correção da célebre Professora Rosane Barros - uma das minhas maiores inspirações no jornalismo até hoje.
Porém, como o curso na UniCesumar deixou de existir e deu espaço à nova grade o curso de Comunicação e Multimeios, o domínio do jornal também deixou de existir. Ainda assim, tenho todos os textos salvos no meu Drive, logo, dá pra ler ainda assim.
✍🏻 Editorial - Jornal Psicologia em Foco
À convite dos alunos do curso de Psicologia da UniCesumar, escrevi o editorial de abertura da edição de número 36 do Jornal Psicologia em Foco, publicação que ficava sob a orientação do Professor Vinícius Romagnolli.
Nele, falei sobre O debate sobre gênero nas escolas e o combate à ideologia da “alienação sexual”, temática que também falei presencial em um colégio da cidade (conto mais para baixo).
📻 Representatividade LGBT é o assunto do programa Megafone produzido pelos estudantes de Jornalismo da Unicesumar
Nosso curso tinha uma parceria acadêmica firmada com a Rádio CBN Maringá 95,5 FM, onde materiais produzidos na disciplina de Radiojornalismo eram editados pelos próprios alunos e veiculados na grade oficial da emissora, em um espaço chamado Megafone CBN, que amplificava a voz acadêmica para toda a comunidade local.
📻 A sofrimento por (do) ser: a identidade de gênero contra a violência para com pessoas trans
Também na mesma disciplina da reportagem acima, que foi para a CBN, produzimos um radiodocumentário completo, de 28 minutos, sobre a temática acima.
O material, em áudio, foi produzido com entrevistas realizadas por mim para a Edição Especial do Matéria Prima (que explico logo abaixo).
Três figuras importantes deste documentário, além de se tornarem amigos e amigas queridas, são essenciais para a existência dele: Lua Lamberti de Abreu, a primeira travesti doutora pela Universidade Estadual de Maringá (UEM); Naomi Neri, que foi a primeira travesti graduada em Biologia, e não só: a primeira da UEM inteira a se graduar, ao lado da também travesti Daniele de Oliveira e Jean Carlo Garcia, então presidente do Coletivo de Homens Trans de Maringá.
📰 Iguais na Diferença - Edição Especial do Jornal Matéria Prima
No segundo ano do curso, o Projeto Integrador (trabalho que reunia todas as disciplinas de uma vez, compondo um grande trabalho em conjunto) consistiu em, pela primeira vez desde a criação do Matéria Prima, que sempre foi online, criar uma edição especial impressa. Mesmo: o arquivo abaixo foi realmente impresso e distribuído pelo campus da faculdade, além de ganhar a cidade, em alguns estabelecimentos.
Foram 8 grandes reportagens produzidas, e que podem ser lidas integralmente no botão abaixo. A produzida por mim e pelo meu grupo começa na página 10, intitulada Travestis batalham para romper os estereótipos.
🎥 Fotodocumentário “A cultura e arte das drag queens”
Para mostrar a criação de Ameillie Joullie, drag queen que ganha vida pelas mãos do Phelipe, melhor amigo e de quem eu já comentei nesta edição daqui da newsletter, produzi um fotodocumentário sobre a cultura e arte de drag queens, acompanhando o processo de montação dele.
Hoje, Ameillie não só ainda existe, como ilumina e brilha os mares da Europa. Phelipe está embarcado nos cruzeiros da MSC e, recentemente, na Pride Party - festa do crew dedicada ao mês do orgulho:
🎤 Palestra no Colégio SESI de Maringá/PR
Já como um pesquisador acadêmico da área, e à convite do meu amigo e então professor de Química da época, Thiago Luiz, fui até a turma do terceirão do colégio para levar o tema A representividade LGBT e a discussão de gênero nas escolas.
O material desta palestra, inclusive, foi muito baseado no Editorial do Psicologia em Foco, do qual falei mais pra cima.
Isso em 2017.
📰 A Queer Post
Largamente uma das coisas que eu mais me orgulho em ter feito durante toda minha vida. Um convite especial, em um momento da minha vida onde eu estava consideravelmente confuso em relação ao que eu queria profissionalmente na minha vida.
Já trabalhava com marketing e CRM há um tempo, porém, sentia dentro de mim que o jornalismo - este, do qual eu tanto amo e tenho orgulho - queria ocupar um espaço maior na minha vida. Nunca ganhei dinheiro (renda salarial) com o jornalismo, pois também desde a faculdade, sempre trabalhei com comunicação empresarial e marketing. Então, tudo que envolvia o jornalismo eram projetos pessoais mesmo.
Nisso, conversei com a redação do Maringá Post, um dos jornais de maior circulação online lá de Maringá, sobre minha ideia. No entanto, sem espaço na redação para novas contratações, e com minhas funções profissionais também se alinhando melhor, fui convidado à escrever uma coluna sobre diversidade e inclusão para o jornal.
Foram mais de 30 textos escritos e publicados ao longo de quase 2 anos.
Com a minha mudança para Florianópolis, além do necessário alinhamento do que eu continuaria produzindo e daquilo que precisaria abrir mão, encerrei o ciclo com a coluna com a sensação de dever cumprido. Escrevi sobre diversos assuntos semanalmente.
Por conta de uma mudança interna do jornal, os textos ficaram divididos em 2 links: a maioria deles na primeira parte da coluna, e alguns outros no segundo link. Para ler todos, vou deixar ambos aqui abaixo:
🎙️ A gente conversa com Lua Lamberti, Paula Warmling e Célio Camargo, Caio Budel e Pierre Míchel e Marcos Furtado
Outro projeto do qual eu tenho um orgulho que não me cabe: durante a pandemia, produzi e mantive o A gente conversa, que era um projeto multiplataformas: toda quarta, as 19h30, eu entrava ao vivo no meu Instagram com algum convidado para um entrevista (sobre vida, carreira…)
Depois, baixava o vídeo da live, editava e transformava em um conteúdo em vídeo, no Youtube, e em áudio, no Spotify. Quem gosta de vídeo, iria para o Youtube. Só ouvir, dava o play no Spotify.
E há quatro entrevistas, dentro do A gente conversa, que vão de encontro com o que eu prego sobre diversidade: lembram da Lua Lamberti, que comentei estar no radiodocumentário lá em cima? Pois é, ela é uma das entrevistadas. O papo foi tão gostoso que precisamos fazer 2 partes, inclusive.
A segunda foi com Célio Camargo e Paula Warmling, mantenedores do Projeto Casa de Missão Amor Gratuito, que era uma casa de acolhimento à pessoas LGBTQIAPN+ em Maringá, mantida por meio de doações. Hoje, a casa tem suas atividades encerradas pelas limitações e novos caminhos que o Célio precisou tomar, porém, um projeto lindíssimo e marcado na história de Maringá, e na das pessoas que foram beneficiadas pelas mãos de ambos.
A outra é com o Caio Budel e Pierre Míchel, casal (e que se tornaram meus amigos) de Curitiba que criaram o monaBOT, um bot que vasculhava os diários oficiais das Assembleias Legislativas dos estados brasileiros (o Caio era assessor parlamentar antes) para encontrar projetos que promoviam ou reduziam direitos da nossa comunidade.
Por fim, o Marcos, além de também meu amigo, participou comigo da edição de 2017 da Semana Estado de Jornalismo, que em parceria com o Santander, premiava reportagens escritas pelos participantes e levava, por meio de intercâmbio, o(a) vencedor para a Espanha. Marcos foi o vencedor do ano que participamos (e nos conhecemos).
Nos botões, vou deixar especificamente as entrevistas, porém, para conhecer o A gente conversa como um todo, aqui está o perfil do Instagram, o canal do Youtube e o podcast no Spotify.
💼 Primeira Roda de Conversa do Orgulho LGBTQIAPN+ da Intelbras
No ano passado, foi um dos participantes da primeira roda de conversa promovida pelo time de DHO da empresa onde eu trabalho, a Intelbras, fabricante de câmeras de segurança, fechaduras eletrônicas, telefones, roteadores e mais uma série de produtos de tecnologia.
100% brasileira, sediada em São José e que realizou esta ação, para que com outros colaboradores e colaboradores também LGBTQIAPN+, pudéssemos compartilhar mais sobre nossa vida e planejar os caminhos da diversidade no ambiente corporativo.
ufa! acho que não esqueci de nada. mas se sim, pouca coisa: temos material suficiente por aqui.
ser gay, hoje, é como ter 1,77 de altura. 86kg de peso. olhos castanhos.
é como ser pai da Felícia e da Nair, ser jornalista, analista de CRM e produtor de conteúdo. ser tio, filho, irmão, neto, sobrinho e amigo. não algo apartado, algo que floresce. que me posiciona no mundo. que foi, é e será o meu norte, a razão pela qual eu nunca esqueça dos meus méritos.
e assim como trago literalmente no peito o trecho da música que, no começo desta edição, disse que estava na minha mente - pois sempre esteve, afinal, tenho até tatuada:
amor.
tudo que importa é o amor.
e o amor é tudo que importa.
e assim como bem explicou este post da Pantone no Instagram, a bandeira LGBTQIA+ original, de 1978, detinha 8 cores originais. na tatuagem, decidi marcar também as 8 cores originais, com o Rosa e o Azul-turquesa também para o peito.
feliz Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+. 🏳️🌈 🏳️⚧