#2 - Sambaqui
por mais que fique ao lado de Santo Antônio de Lisboa, eu fui conhecer pela primeira vez em setembro de 2023. do melhor restaurante até a melhor cafeteria da ilha: um berço manezinho
olá! e aí, tudo certinho? passou bem da semana passada pra cá? espero que sim. nessa semana, talvez você esteja me lendo enquanto respira um ar mais pesado, com a garganta mais seca e talvez espirrando - ver um sol bonito, mais alaranjado e rosa, nos custa realmente vivenciar uma catástrofe climática diante dos nossos olhos, né?
motivo também que fez com que esta edição chegasse até você só hoje: respeitei os limites do meu corpo e da minha semana, por ter ficado gripado e com uma sinusite daquelas. maneirei um pouco, melhorei e agora estou aqui. feliz sábado!
em uma das edições da newsletter do meu amigo Mateus Camillo, a
, que relata sobre como foi ficar meio incomunicável quando da ida à Ilha do Cardoso, ele traz um ponto que me fez pensar por uns dias: hoje, a gente praticamente não consegue ficar incomunicável. salvas as vezes em que estamos sem acesso ao sinal de internet (que foi o caso dele durante a viagem), a gente nunca tá 100% desconectado. a nossa mente - pelo menos a minha - costuma, diariamente, fervilhar pra dar conta de tudo aquilo que a gente precisa dar conta (e que as vezes nem sabe muito bem o que é). por isso, usando o bom e velho “dai a César o que é de César”, estou em uma tentativa ofegante, mas prazerosa, de tentar me concentrar no que preciso e no tempo certo: tempo de trabalhar é tempo de trabalhar. tempo de descansar é tempo de descansar. ao trabalho o que é do trabalho. ao descanso, o que é dele por direito: existir.e daí, num desses sábados em que eu faço por questão permitir que o descanso exista, saí de casa pra ir até Santo Antônio de Lisboa, o lugar que recebeu a primeira rua calçada do Estado de Santa Catarina (na ocasião da chegada de Dom Pedro II) para tentar ver se naquele dia, eu daria a sorte de ver o já eleito pôr do sol mais lindo do Brasil, mas a tarde terminou nublada.
sem ver o céu azul e alaranjado, fui andando pela orla do mar e lembrei que ali do ladinho de Santo Antônio tem um bairro. 35 minutos de caminhada até lá.
um sambaqui é basicamente um amontoado de conchas que, com o passar de milhares de anos, forma um monte: um morrinho, uma solidificação dessas conchas.
em Florianópolis, Sambaqui é um dos mais de 80 bairros espalhados pela ilha, e que fica no norte, ao lado de Santo Antônio de Lisboa. junto também do Cacupé, formam a baía da orla norte, ou a (tão famosa) via gastronômica do sol poente.
estava contando aqui (com a ajuda das fotos) e já fui 7 vezes para o Sambaqui. sozinho, com meus pais, com a Roberta, com o Gabriel, Netto e Rodolfo, com o Aldrey, Flávia, Isa e João, com o Christian e o Bruno… mas nenhuma delas é igual. a região guarda uma essência muito específica, é quase uma colônia. é um lugar que tem um prédio histórico como sede da associação de moradores. que preserva a raiz histórica da colonização açoriana na ilha, que é o berço de pescadores que, até hoje, da tainha ao namorado, dia ou noite, maré cheia ou alta, vivem da pesca. do dialeto que parece música, dos diálogos cheios de “se tu quesh, quesh. se não quesh, dix”, o Sambaqui foi a terra escolhida para que os primeiros imigrantes açorianos estabelecessem casa na então ilha de Nossa Senhora do Desterro - hoje, Florianópolis.
da última vez que eu fui ao bairro, era um domingo a tarde. o tempo não estava muito aberto, mas eu lembro que o sol conseguiu aparecer (já em meio à dificuldade que vem tendo nos últimos dias para driblar a fumaça da própria frente). sentei nos primeiros banquinhos que ficam numa espécie de pracinha, um recuo da rodovia onde tem uma placa, bancos e essa paz aqui:
o bairro é daquele tipo de lugar que se você precisa (e gosta também, assim como eu) fazer a observação da vida, nada melhor. você está no ali, no agora, vendo o sol tilintar as águas que seguem o curso da maré.
eu particularmente gosto muito do que eu chamo das pontas da ilha: você chegou até a ponta. dali, ou é mar, ou é mar. é um canto. e a Ponta do Sambaqui é uma das minhas três preferidas da ilha: além dela, a Ponta das Campanhas, na Armação, e o Pontal da Daniela (também no norte da ilha) são lugares incríveis.
não é muito difícil chegar lá, não: a primeira foto que coloquei aqui é na praça onde você acessa a Ponta do Sambaqui. bom, que eu vou deixar pra que vocês vejam:
o restaurante do Gugu é simplesmente um absurdo.
no Sambaqui, há 34 anos, existe um restaurante que fica numa casinha. aconchegante, “escondidinho” pra dentro do bairro - o Restaurante do Gugu.
conheci por meio de indicação. por trabalhar com muitos manezinhos e manezinhas nas duas empresas que já passei, me recomendaram conhecer o melhor pastel de camarão da ilha. acreditei, mas preferir ir confirmar, e é verdade mesmo.
nada se compara à comida do mais alto nível açoriano da ilha. sempre que eu levo alguém lá (as últimas pessoas foram os meus pais), eu digo que aquela culinária é simplesmente o topo, o ponto mais alto da experiência do que é comer a comida de quem é nativo daqui. não tem nada mais manezinho: arroz branco, batata frita, pirão de peixe, peixe e molho de camarão. ok, concordo que uma ostra completaria o cardápio, mas lá, se você quiser, e só pedir no cardápio.





a dica é: na alta temporada, o restaurante recebe um maior volume de pessoas. e por mais que os horários de funcionamento sejam bons, eles ainda respeitam a rotina da vida cotidiana manezinha: fecham “cedo” aos domingos, durante a semana, dividem o período da tarde e da noite com uma pausa no meio. então, vale perguntar na DM do Instagram, ou ligar lá, pra saber se tá rolando fazer reservas ou não - as vezes, você chega lá e como ele não é um salão muito grande, pode ser que role uma fila. mas vale muito a pena.


mas a café & poesia também não fica nada para trás.
é lá, também, que fica a melhor cafeteria da ilha (na minha opinião): a Café & Poesia. essa, sim, eu conheci de curioso mesmo. da primeira vez que eu fui, eu passei na frente dela e achei o lugar muito convidativo (é uma casinha a coisa mais linda do mundo). daí, das outras vezes que fui lá, em todas eu fui na cafeteria.
tenho minhas escolhas favoritas de lá também:
café: gosto de pedir o café poesia, que é basicamente o café com leite, adição de canela e chantilly por cima e doce de leite com caramelo salgado em volta da xícara. tem a versão capuccino também, o capuccino poesia. ambos valem muito a pena.
comida: eu tenho três coisas que toda vez que eu vou, peço (sou metódico):
medialuna de queijo com geleia de abacaxi com pimenta
torta de maça com geleia de pimenta
torta de nozes



a cada pedido (como dá pra ver em cima da mesa), vem acompanhado de uma poesia escrita à mão - e assinada com o logo da cafeteria, que é uma xicarazinha com flor. quem escreve é a dona e idealizadora, Angela Forte, que também comanda os pedidos da cozinha.



teve uma edição da Neon Brush, aquela experiência de pintura em luz negra que rolou na Galeria Lama, ali no centro, e quando eu tava de frente pra tela, pensando no que eu ia pintar, na hora me deu um estalo de (tentar) reproduzir a Associação do Bairro do Sambaqui, prédio histórico e cultural que carrega a essência da arquitetura manezinha - uma das coisas mais lindas daqui.


algumas pessoas me perguntam, de vez em quando, “como que você encontra e conhece esses lugares?” e a resposta é muito simples: curiosidade e um Google Maps. pensa o seguinte: por ser uma ilha, Florianópolis tem começo, meio e fim. você literalmente consegue ir de norte a sul, leste a oeste dela, se quiser. de Canasvieiras a Naufragados (norte a sul) e do centro ao Moçambique (leste a oeste).
obrigado por ter chegado até aqui - e ter permitido também que eu chegasse aí, na sua caixa de entrada. falar do Sambaqui é fácil porque é gostoso, igual é ir até lá. pra me reorganizar, pra pensar, pra comer, pra andar e pra desbravar.
🏝️ até a próxima!
A praia dá Ilha do Cardoso que fiquei foi minha namorada que descobriu via Google Maps. Ótimo jeito de explorar a vida.